quinta-feira, 16 de julho de 2009

1ª Intervenção Seleccionada

Esta minha participação foi realizada no Fórum sobre Nativos Digitais e Imigrantes Digitais. Escolhi esta participação porque foi ao encontro da reflexão que era proposta e reflectiu sobre uma questão adicional colocada pela professora Maria João Silva:
"- Sendo a nova forma de aprender do estudante digital centrada nos "seus critérios e apenas sobre os seus interesses", (tal como foram referindo), que implicações terá esta característica na educação dos mesmos?"
Esta questão é central. Se os conteúdos leccionados nas escolas não vão ao encontro das motivações dos adolescentes, o que devemos fazer? Colocando a questão de outra forma, os professores devem integrar os novos recursos utilizados pelos alunos, nas suas práticas lectivas?
Como parte integrante da motivação que referi nesta participação, refiro, sem dúvida, a utilização de materiais ou estratégias com os quais os alunos se sintam identificados. A utilização de blogues já é um facto em algumas práticas lectivas. A utilização do telemóvel, nas práticas lectivas, no ensino do português já ocorre em Portugal. Tive a oportunidade de assistir a uma apresentação muito interessante sobre esta prática, na Universidade do Minho (Challenges 2009).
Por outro lado, os jovens necessitam de referências que lhes permitam fazer escolhas úteis e de qualidade. Aqui, o papel da escola é importante.
Ainda tive a oportunidade de responder sobre se os nativos digitais têm mais probabilidade de sucesso. Ainda hoje manteria a mesma resposta. Por outras palavras, o domínio das tecnologias e a capacidade de interacção na rede não deve substituir a nossa capacidade de nos relacionarmos positivamente nos locais físicos onde nos encontramos.


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Caros colegas e professoras,

considero que todos os trabalhos apresentaram um "perfil do estudante digital" baseado nas características propostas por Prensky. Todos foram eficazes nessa abordagem, indo ao encontro da proposta inicial. Aproveito as palavras do Pedro, que duvidou, baseando-se no contacto com os alunos, sobre essa caracterização aparentemente fechada de dois tipos de utilizadores dos recursos digitais: Nativos e Imigrantes Digitais.
No debate que se tem feito sobre este tema, Bennett, Maton e Kervin (2008), em The ‘digital natives’ debate: A critical review of the evidence, colocam também a dúvida sobre algumas características dos Nativos Digitais apontadas por Prensky. Eles referem que investigações realizadas com alunos (da era digital) de instituições de educação dos Estados Unidos, de facto, utilizam computador pessoal, Internet, telemóvel ou outros recursos tecnológicos, em grande percentagem, mas apenas uma pequena percentagem de alunos cria conteúdos multimédia, domina linguagem de programação, mantém blogues ou sites, tem computador portátil, entre outros recursos. Além disso, alertam para o facto de, ao centrarmos o estudo num grupo muito reduzido de alunos, podermos estar a negligenciar uma geração que na sua grande maioria não se enquadra perfeitamente na categoria de Nativo Digital.

No entanto, compreendendo a preocupação de Prensky ao estabelecer um conjunto de domínios em que os "Nativos Digitais" estão a abrir novos caminhos, gostaria de responder às questões levantadas pela professora Maria João Silva quanto às implicações das "preferências de aprendizagem" do estudante digital. Segundo Prensky, os Nativos Digitais aprendem com maior facilidade tudo o que os motiva particularmente e isso não inclui, na maior parte dos casos, os conteúdos dados na escola. Por um lado, deve colocar-se à escola a responsabilidade de "saber" motivar os alunos para a aprendizagem de conteúdos considerados essenciais para a sua formação. Por outro lado, ao considerar-se as preferências dos alunos, temos de estar atentos aos inúmeros factores externos a que os alunos estão sujeitos (como a publicidade) e procurar que estes desenvolvam um sentido crítico em relação à utilidade ou à natureza dessas influências.

Relativamente à segunda questão, creio que no domínio das tecnologias e da exploração das suas potencialidades o estudante digital (de Prensky) tem mais probabilidade de sucesso que o imigrante digital. Mas, se as tecnologias permitiram aproximar pessoas que estão a milhares de quilómetros de distância, falta no texto de Prensky a caracterização do Nativo Digital (ou do Imigrante Digital) quanto à sua capacidade de se relacionar com as pessoas que lhe estão fisicamente próximas. E para mim, Imigrante Digital, o futuro ainda passa por aí.

[] Paulo Azevedo

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